Quem não conhece seu passado está condenado ao futuro. Não é esta a citação famosa, mas é neste formato que eu gosto dela. Primeiro de junho de 1941. Uma data que não diz nada a você. E não diz por quê? Porque ela não existe para o ensino judaico, não é citada nas escolas, nas yeshivot, nos movimentos juvenis.
O sistema de ensino acaba sempre por escolher o que ensinar e, caramba! São árabes! O que nos importa? E esse preconceito intrínseco aos judeus de origem européia, eu incluso (origem, não preconceito), é forte até os dias de hoje. Pouco se mostra, se recorda e se ensina sobre os judeus arabes, ou "sefaradim-aravim" como várias correntes religiosas adotam em Israel.
Quase três anos depois da Noite dos Cristais na Alemanha, Áustria e Tchecoeslováquia, foi a vez dos judeus de Bagdá serem atacados pelo Estado. Os pogroms e ataques violentos e fatais contra os judeus começaram no Oriente Médio anos antes do nazismo chegar ao poder e não são relacionados com a perseguição sórdida movida por Hitler. O antissemitismo islâmico tem suas próprias raízes históricas, seus próprios textos e homens chave. Matar os judeus, para eles, não exige uma desculpa nazista.
Como no Irã, então Pérsia, os judeus estavam no Iraque há mais de 2.500 anos, portanto, uns mil anos antes da chegada de árabes muçulmanos. Mas a propaganda islâmica de 1940 era de que os judeus eram estrangeiros no país que habitaram primeiro, talvez desde o Jardim do Éden. A comunidade judaica iraquiana de 1941 era a mais próspera e culta do Oriente Médio, com 90.000 pessoas.
O ataque, o pogrom do dia 1 de junho foi realizado por soldados iraquianos, policiais e gangues paramilitares que abriram caminho para a população incitada. 150 judeus foram assassinados barbaramente, centenas ficaram feridos (não havendo documentação para ser consultada) e cera de 600 comércios de judeus foram depredados e saqueados, apenas na capital do Iraque.
Para ter uma medida exata do que representou esse massacre para os judeus do mundo ocidental, basta dizer que não foi noticiado nos jornais.
Note que esse massacre ocorre 3 meses ANTES dos povos do leste europeu "liberados" pelos nazistas do jugo soviético, começarem a exterminar seus vizinhos judeus e limpar etnicamente sua Ucrânia, sua Lituânia, sua Estônia, sua Bielorússia, sua Bessarábia etc. Este pogrom não está relacionado oficialmente com o Holocausto, mas faz parte do contexto.
E de quem é a culpa? Quanto mais estudo e escrevo sobre o massacre de judeus no século 20, mais me convenço de que a parcela maior de culpa é da Inglaterra. O Iraque teve uma tomada de poder nazista antes de 1941 e estava sob ocupação britânica. Os militares da rainha nada fizeram para impedir o ataque aos judeus, para deter o ataque aos judeus ou para prender e punir os assassinos dos judeus.
E já tinham experiência com isso desde o Massacre de Hevron em 1929, quando ficaram observando a turba árabe da cidade estuprar e trucidar seus judeus, e em outras ocasiões na Palestina do Mandato. O comportamento britânico foi esse em TODAS as vezes que árabes partiram para cima dos judeus, inclusive após o Holocausto, nos pogroms da Líbia em novembro de 1945 e de Aden, o Iemem, em dezembro de 1945.
A situação é tão complicada com a questão iraquiana, que mesmo depois destes anos todos sob ocupação americana e com um governo local, o Iraque continua em estado de guerra com Israel, pois jamais assinou o Armistício da Guerra de 1948, quando sete países árabes tentaram continuar com Holocausto nazista varrendo Israel do mapa e incitando seus soldados e paramilitares a matar todos os que encontrassem pela frente.