Apesar de todo o antissemitismo pré Segunda Guerra Mundial, foram os judeus da Polônia, que totalizavam 3,5 milhões de pessoas antes da guerra a população judaica dizimada em maior número. Como em todos os países ocupados pela Alemanha houve os que se aliaram e os que resistiram. Dentro destes dois grupos havia os que perseguiam judeus da resistência e os que ajudavam. Ajudaram como puderam. Alguns historiadores dizem que podia ter sido mais. Coisa que nunca se terá certeza.
Mas quando se fala do início "oficial" da Segunda Guerra Mundial se fala apenas da invasão alemã à Polônia e se deixa de lado a invasão soviética da Polônia já previamente e secretamente dividia no pacto Molotov de não agressão entre Alemanha e União Soviética, entre os dois grandes inimigos socialistas... E se os alemães fuzilaram sumariamente os oficiais poloneses que se rendiam ou eram encontrados feridos para eliminar as lideranças de um país que iriam ocupar, os soviéticos os prenderam e depois os executaram na floresta de Katin de forma sistemática e tragicamente similar ao que ocorreria alguns meses depois aos judeus dos estados bálticos.
Por décadas de domínio comunista o Massacre de Katin foi atribuído aos nazistas, que sempre negaram este episódio, apesar de não negarem suas outras atrocidades e até terem orgulho do que fizeram. Apenas com a queda do regime comunista e a abertura dos arquivos da WW2 no Kremlin a cruel verdade veio a tona: as tropas invasoras soviéticas na Polônia receberam a ordem direta de também eliminar os oficiais poloneses. Este é um dos motivos da resistência polonesa ter tantos grupos, por vezes inimigos entre si, de não terem um comando. É porque não havia oficiais treinados para comandar os resistentes, ficando os cargos de liderança ou com ex-cabos e sargentos com ou pessoas sem nenhum tipo de treinamento.
O evento para onde ia todo o governo polonês, sua cúpula militar e acompanhantes (até o momento desta matéria a lista completa ainda não havia sido divulgada) era exatamente para o reconhecimento oficial e o pedido de desculpas formal do governo russo, pelo que seus antecessores soviéticos fizeram na Polônia de setembro de 1939 a agosto de 1941. Tragicamente a viagem foi em um avião Tupolev russo e um piloto que recusou as ordens da torre de comando acabou com a vida de todas na quarta tentativa de aterrissar em meio à neblina.
Este presidente, este governo, estas lideranças militares que foram consumidas nas cinzas, como 3,3 milhões de seus cidadãos judeus há 60 anos atrás, eram amigos, compreendiam e reconheciam o que realmente aconteceu. Foi devido a eles, principalmente ao presidente Lech Kaczynski que em 2007 o comando militar de Israel, soldados e oficiais puderam prestar uma homenagem oficial aos judeus mortos no campo de Auschwitz.
Foi devido a compreensão deste governo polonês desaparecido em instantes que a IAF - Força Aérea de Israel teve permissão (contando com a dos países que teve que cruzar também) para manobras de sobrevôo a baixa altura ao final da cerimônia, completando um ciclo: dos judeus pobres, espancados, agredidos humilhados, enforcados, fuzilados, aos pilotos dos F14 Tomcats; das judias, nossas avós e bizavós, das moças que poderiam ter sido nossas mães e avós, nuas, na neve aguardando a bala que lhes terminaria o sofrimento às militares honradas, lindas cantando na cerimônia que você pode ver no vídeo em anexo. O brigadeiro que comandou o grupo de três aviões é descendente de primeira geração de sobreviventes do Holocausto.
Na época os agradecimentos ao governo polonês foram pouco, pois nós sempre achamos que algumas coisas vão durar muito tempo. Agora os agradecimentos são póstumos.
José Roitberg - jornalista
sábado, abril 10
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários ofensivos de qualquer espécie, discurso de ódio e propaganda serão removidos. Hatred speach and propaganda comentarys will be removed. Para atrapalhar os spammers vc terá que digitar a palavra de verificação.