Margaret Bergmann quebrou marca do salto em altura antes das Olimpíadas de Berlim, mas foi impedida pelos nazistas de competir. Domingo, no 'EE'
Dois meses antes da abertura das Olimpíadas, no dia 30 de junho, Bergmann venceu com folga o Campeonato Alemão de Atletismo. Saltou 1,60m, recorde nacional. A vaga olímpica era sua. O plano estava de pé.
- Eu sonhava com os Jogos, sabia que podia vencer qualquer atleta. Mas meu mundo desabou logo depois - recorda Margaret, hoje com 95 anos.
Bergmann, 95 anos, hoje mora nos EUA
O motivo estava em um documento que chegou à sua casa duas semanas antes da abertura olímpica. Assinado por Karl von Halt, então dirigente máximo do Comitê Olímpico Alemão, o comunicado dizia que ela havia sido excluída da competição. Seu recorde também fora anulado.
- Queriam reduzir o número de judeus atletas dos Jogos a quase zero. Em troca, me ofereceram ingressos para ver as provas no meio do público. Claro que eu não fui.
Em seu lugar competiu uma fraude. Os alemães inscreveram um homem disfarçado de mulher – Herman Ratjen apareceu na prova como Dora Ratjen. Mas ele acabou apenas na quarta posição. A vitória ficou com a húngara Ibolya Csák, que saltou exatamente 1,60m (a mesma distância conseguida por Bergmann meses antes).
Margaret em ação na Alemanha, em 1936
Bergmann percebeu que a situação poderia piorar e decidiu fugir do país – seus familiares que ficaram morreram em campos de concentração. Ela embarcou em um navio pouco depois das Olimpíadas e aportou em Nova York. Queria retomar a carreira atlética, voltar a sonhar com o ouro olímpico. Ficou longe disso. Precisando de dinheiro na nova casa, trabalhou boa parte da vida como faxineira.
- Todas as vezes que eu via esporte na TV eu chorava. Chorava muito. Tudo o que vivi retornava à minha cabeça, como num caleidoscópio. Era horrível - conta, de Nova York, onde vive com o marido Bruno, de 99 anos.
Era preciso encarar os fantasmas para acabar com essas mágoas. E Margaret resolveu agir. A partir dos anos 80, passou a escrever cartas para dirigentes esportivos do mundo todo. Ela contava sua história, e pedia ao menos uma palavra de resignação da Alemanha e das autoridades olímpicas.
A atleta treina na Alemanha nazista
- Eles me deviam desculpas, e eu prometi que jamais descansaria sem recebê-las.
Margaret conseguiu, quase 75 anos depois de ser ultrajada pelos nazistas. Ela acaba de receber um documento da Associação de Atletismo Alemã com uma decisão surpreendente. Seu recorde obtido em 1936 foi revalidado. Ela foi reconhecida como melhor atleta daquele ano. A vaga olímpica era mesmo dela.
- A lista de recordistas do atletismo alemão jamais foi alterada. Mas agora a exceção se justifica. Você será lembrada para sempre - diz o documento.
Os detalhes dessa incrível saga vivida por Margaret Bergmann você conhece domingo, no "Esporte Espetacular".