Fascismo avança na Europa e inspira governo de Getúlio Vargas
1934, a crise mundial e o esporte ajudam a extrema-direita
postado em 10/05/2010 16:22 h
atualizado em 10/05/2010 18:34 h
A segunda edição da Copa do Mundo de Futebol, em 1934, como também a de 1938, coincidem com o auge do fascismo na Europa, e foram usadas, na Itália e Alemanha, como propaganda política dos ditadores Hitler e Mussolini.
Benito Mussolini percebeu a popularidade do esporte e o crescimento do torneio, e fez de tudo para que a equipe italiana fosse vitoriosa, influindo mesmo diretamente na escolha de árbitros, além de criar uma taça especial, em sua própria homenagem: a "Coppa Il Duce". No poder desde 1922, inicialmente como primeiro ministro, Mussolini galga postos no poder, conferindo a si títulos tais como: "Sua Excelência Benito Mussolini, Chefe de Governo, Duce do Facismo, e Fundador do Império".
A extrema-direita frutificou numa Itália debilitada política, econômica e socialmente no pós 1ª Guerra, ao mesmo tempo que funcionou como reação à insurgência do comunismo no mundo. A Itália alia-se aos países do Eixo, até a derrota em 1945, quando Mussolini foge, e é capturado e morto por combatentes da resistência italiana. O fim é trágico: seu corpo é pendurado e exposto em praça pública, em Milão.
O contexto é semelhante ao da Alemanha, que depois da 1ª Guerra também sofreu os efeitos da grande depressão que abalou o mundo. Quando Adolf Hitler chega ao poder, como chanceler do Reichstag, o desemprego atinge perto de 6 milhões de pessoas. Em 1933, um incêndio destrói o Reichstag, e a culpa recai sobre os comunistas. É o momento em que os intelectuais começam a furgir da Alemanha, como o escritor Bertolt Brecht, que viu na depressão do final dos anos 1920, no quadro das revoltas populares e nas crises sucessivas do governos, um sinal do que adviria, prevendo as barbaridades do Terceiro Reich. Em agosto de 1934, Hitler passa a se auto-intitular líder (führer) da Alemanha. Bem, a história seguinte todos conhecemos.
Mas, falando em comunismo, também é em 1934 que o líder Mao Tsé Tung dá a largada à Longa Marcha dos comunistas chineses, que percorreria dez mil quilômetros do país, a pé.
Populismo no Brasil
Talvez a figura política mais bem sintonizada com o fascismo italiano tenha sido Plínio Salgado, fundador da Ação Integralista Brasileira. Nacionalista e anticomunista exacerbado, seu movimento incluia uma série de rituais e símbolos, como a utilização da expressão indígena Anauê ("Você é meu irmão"). Em 1934, reuniu mil integralistas numa manifestação em São Paulo. A época era radicalização política, e não demorou muito, formou-se uma frente contra o fascismo verde-amarelo: a ALN - Aliança Nacional Libertadora.
Enquanto isso, o governo de Getúlio Vargas comprava e queimava sacas de café, como forma de enfrentar a crise mundial. Para conter as tensões sociais, o caudilho criava sindicatos atrelados ao governo e mandava interventores para governar os estados.
O "governo provisório" de Getúlio, estendendo-se desde a revolução de 1930, precisava de base de sustentação institucional. A resposta foi a convocação de uma assembleia nacional constituinte, formada por 214 parlamentares e por 40 representantes de sindicatos que, evidentemente, recomendados pelo próprio governo, a exemplo do que viria da Itália de Mussolini e da Alemanha de Hitler.
A Carta de 1934 institui o voto secreto, o voto feminino - uma antiga reivindicação -, proibiu o trabalho infantil, criou a Justiça do Trabalho, nacionalizou as riquezas naturais e abriu caminho para a nacionalização de empresas. Outro avanço, o entendimento da educação como um direito universal, deu condições a que fosse criada em 1934, por iniciativa do governador Armando Salles Oliveira, a Universidade de São Paulo.
Musicais, no cinema e no rádio
Mesmo tutelados, os avanços na área cultural iam se consolidando. No gosto popular, dois veículos - o cinema e o rádio - já faziam sucesso. O rádio, mais na década seguinte, nos anos 40, quando testemunharia a chamada "Era do rádio", momento de auge do veículo de massas. Esse crescimento começava em 1932, quando os anúncios publicitários passaram a ser permitidos, e surgiu a rádio comercial.
Um dos pioneiros do rádio foi Ademar Casé (avô da atriz Regina Casé), que no Programa do Casé, da Rádio Philips, lançou artistas como Noel Rosa e Almirante. Casé foi o primeiro a pagar cachê aos artistas, além de ser autor do primeiro jingle e da primeira novela. Também em 1932 foi criado o primeiro programa político, comandado por César Ladeira. Pouco depois, em 1934, o compositor Ary Barroso inicia, na Rádio Cosmos, de São Paulo, o programa musical "Hora H". Ary já havia trabalhado em rádio, mas como pianista, e aos poucos vai se tornar locutor esportivo, humorista e animador.
Músicos como Ary Barroso eram requisitados pelo cinema, para acompanhar filmes mudos ao piano. O cinema falado (e cantado) chega ao Brasil no limiar da década de 20. "A voz do Carnaval", de 1933, dirigido por Adhemar Gonzaga e Humberto Mauro, marca a estreia de Carmem Miranda nas telas, cantando "Moleque indigesto", com o próprio autor Lamartine Babo, e "Good-bye, boy!" de Assis Valente. Antes, o musical "Coisas Nossas", de 1931, dirigido por um americano, Wallace Downey, faz grande sucesso ao mostrar astros e estrelas do rádio da época, como Paraguassu e Jararaca e Ratinho.
E por falar em norte-americanos, quem faz sua primeira aparição na tela, em 1934, é o Pato Donald, personagem de desenho animado dos estúdios de Walt Disney, no episódio The Wise Little Hen (lançado no Brasil com o título de "A Galinha Esperta") da série Sinfônias Tolas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários ofensivos de qualquer espécie, discurso de ódio e propaganda serão removidos. Hatred speach and propaganda comentarys will be removed. Para atrapalhar os spammers vc terá que digitar a palavra de verificação.