"Aqueles que queimam livros, acabarão por queimar pessoas". As palavras do poeta judeu alemão Heinrich Heine, escritas no início do século XIX, revelar-se-iam proféticas. Heine foi um dos muitos escritores cujos livros foram queimados a 10 de Maio de 1933 na praça pública, em várias cidades alemãs, num dos primeiros sinais da intolerância nazi.
As queimas de livros têm uma história longa - merecem uma entrada na Wikipédia com 80 exemplos. A queima apoiada pelos nazis (a chamada Bücherverbrennung) tinha um antecedente no século XIX. Em 1817, associações de estudantes decidiram queimar livros que viam como "não-alemães".
A ideia repetiu-se em 1933, com o apoio do ministro da Propaganda, Joseph Goebbels, que tinha na Associação de Estudantes Nacional Socialistas um importante aliado.
A campanha teve como auge a Bücherverbrennung: 25 mil livros queimados em 34 cidades universitárias, em rituais em que compareceram oficiais nazi, reitores, professores e estudantes. "Não à decadência e à corrupção moral", declarou Goebbels. "Sim à decência e à moralidade na família e no Estado! Entrego às chamas os escritos de Heinrich Mann, Ernst Gläser, Erich Kästner [alemães críticos do regime de Hitler]".
A lista de obras queimadas podia continuar: socialistas como Bertolt Brecht e Karl Marx foram alvos óbvios, mas também escritores como Ernest Hemingway, Jack London e Helen Keller, "influências estrangeiras corruptoras", e até Albert Einstein, alemão de origem judia, Nobel da Física em 1921.
Obs José Roitberg: por mais terrível que seja este momento, há uma certa "sorte poética." Ao considerar as obras de Einstein e outros físicos judeus como "física judia degenerada" queimando-a e deixando de ensiná-la, os nazistas perderam o trem a energia nuclear. Todos os cientistas judeus e alguns não judeus saíram da Alemanha enquanto puderam. Não tivesse a física nuclear sido a "física judia degenerada" certamente Hitler teria tido a Bomba antes dos americanos e talvez estivéssemos hoje (eu não - estaria morto ou nem teria nascido) comemorando esta data ao invés de relembrá-la.
Lamentávelmente, quando é relembrado esta queima de livros realizada pelo Estado Nazista alemão no dia 10 de maio de 1933, quero lembrar a todos que nesta data presente, professores da Rede Pública Estadual em manifestação grevista, queimaram livros em plena Avenida Paulista, equiparando-se aos nazistas que realizaram o mesmo crime a 77 anos atrás.
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