Me preocupa as diversas manifestações de jornalistas e não jornalistas comparando Hertzl e Arafat.
"Se o Lula vai colocar flores no túmulo de Arafat, deveria colocar no de Hertzl". Para mim não existe conceito mais equivocado que este.
Definindo desta forma aí, se legitima Arafat e o coloca no mesmo nível contextual de Hertzl. Então, ou Arafat é um teórico político, ou Hertzl é um terrorista. Mas sabemos que ambos não são nada disso. Uma homenagem e um alinhamento político não pode ser condicionado a outro. Israel já foi fundado e está consolidado, apesar de como até discutimos ontem aqui no RJ "ter que justificar e defender sua existência diariamente" - é o único país que precisa fazer isso. Não faz diferença colocar flores sobre Hertzl.
O Estado Palestino ainda não foi formado, apesar do Arafat ter declarado sua independência durante o exílio na Tunísia e (pouca gente sabe disso) o Haj Amin al-Husseini, o mufti nazi de Jerusalém, tio do pequeno Yasser, ter sido presidente do Estado da Palestina de 1948 a 1959 enquanto o Egito reconhecia este Estado como tal. Ah, este Estado Desconhecido da Palestina era Israel. Gaza ocupada pelo Egito e Cisjordânia ocupada pela Jordânia não faziam parte.
O PT e os partidos de esquerda não podem esconder sua admiração por quem a mando soviético implementou o "vietnã no Oriente Médio" em 1964. Isso faz parte emblemática da vida da esquerda brasileira. O PT não pode se dissociar da FPLP cristã ortodoxa-marxista (estou pouco me lixando para a contradição do título, pois na realidade é o que eles eram e ainda são).
O importante nesta questão não é a admiração pelos Palestinos nem a agenda aberta da criação do Estado Palestino porque esse é um objetivo aberto de Israel também. Não há discussão sobre isso. Há um monte de gente contra isso, mas é outra situação. O importante nesta questão é a admiração por Israel e a inclusão de Israel no Mercosul. É o primeiro país fora das fronteiras do Bloco a conseguir isso. E não depende só do Brasil. Isso ocorreu com a anuência de todos os governos de esquerda que formavam o bloco em 2007 e está mantido para começar daqui a duas semanas. Isso é inédito e como se pode ousar dizer que tais governos são anti-Israel porque votam a favor do Irã e admiram Huguinho, Zezinho e Luizinho? A Venezuela e outros comunistas sulamericanos não conseguem entrar no Bloco. Israel conseguiu. É por aí que se deve levar a questão.
Pode até colocar um patuá, galinha, faroja e cahaça sobre o túmulo de Arafat. O importante é Israel no Mercosul, o resto é absolutamente irrelevante neste momento. E foco está sendo dado sobre os ossos de Hertzl, progenitor de um Estado que sequer segue o que ele imaginou, previu e lutou até o fim. "O Estado dos Judeus" é apenas mais um livro do qual só se fala e ninguém lê. É um livro cujas propostas ficam idealizadas num imaginário coletivo . Essa idealização é falsa, nada tendo a ver com o texto. Essa idealização é o que chamo há anos de "Isreal", um Israel surreal que só existe na mente de quem não está lá ou se fecha nas diversas bolhas que existem lá. É o Israel de "hatikva, yerushalaim shel zahav e yidshe mame", e não o Israel de Infected Mushroom, Subliminal, Keren Peles e Tipa.
E sionismo não foi desenvolvido apenas de um livro. Se o livro sequer é lido, imagine as atas do monte de Congressos Sionistas até a formação de Israel? Quem leu? Quem se interessa pelo estudo da época 1872 a 1950 sobre o aspecto do antissionismo da comunidade judaica americana, alemã, inglesa, polonesa e fancesa? Quem se interessa hoje por sequer saber que existiram a Organização Sionista, a Organização Sionista Revisionista (não queria um Israel sob preceitos socialistas) e os Sionistas Gerais?
E quem da esquerda se importa com um Israel fundado sob preceitos socialistas e que mantém até hoje algumas estruturas socialistas exemplares definidas como nazistas? Quem se importa com o partido nazista ter se chamado Partido Nacional Socialista e o partido de Ben Gurion, fundador real de Israel se chamar de Partido Socialista Nacional??? Quem se importa?
Quem se importa que Hertzl escreveu com todas as letras que o alemão permitia, que O Estados dos Judeus JAMAIS poderia ser uma teocracia judaica, quando há uma corrente fotíssima puxando para este lado, patrulhando a vida de cada judeu e pretendendo que nos tornemos muçulmanos!!! Tá achando estranho? Muçulmano significa "submisso." Subimisso lá, submisso cá, é o que importa aos líderes religiosos teocráticos. Sharia ou Lei Judaica - semelhantes na especificação da submissão, onde a liberdade individual é banida pelo clero.
E isso DEVE acontecer, pois estamos vivendo o momento da falência da democracia trinta anos depois da falência do comunismo. Ambos não respondem mais ao que o mundo está se tornando e ao novo apetite ideológico. Principalmente porque algo que a democracia conseguiu evitar por quase 100 anos, que o "povo" chegasse ao poder, já foi ultrapassado e o povo está no poder em dezenas de países. E quando falo povo, entenda-se não a maioria, mas a minoria militante. É a democracia que elegeu os quasi-ditadores neo-comunistas latino-americanos. É a democracia que elegeu o Hamas, é a democracia que manteve Ajad e é a democracia que colocou o Partido Socialista no poder na França, ante-ontem mesmo com 54% de ausência de eleitores, certamente os não-socialistas. É a democracia que desestruturou economicamente o mundo no ano passado e é a democracia que parece que vai destruir o sistema de auxílio médico nos EUA. É a democracia que não consegue confrontar o "perigo amarelo" do Socialismo de Capital da China que varre os empregos ocidentais para debaixo das tigelas de arroz.
Muamar Kadafi é especificamente lúcido e consciente disso e já mandou a al-Qaeda ficar quieta sem fazer nada várias vezes, só que ninguém o ouve, pois sabe e declarou publicamente que no máximo em 25 anos com o crescimento populacional islâmico na Europa e o declínio da população cristã na mesma região (simples matemática populacional) a Europa, caso ainda seja democrática, terá as repúblicas islâmicas implantadas dentro da lei pelo voto da maioria.
E isso não está longe do Brasil. Na eleição passada, já havia volume eleitoral para a instalação de uma República Evangélica Brasileira, mas os caras resolveram esperar mais um pouco. Temos eleições este ano.
Todas as religiões estão se acirrando e afiando. Ninguém consegue criar uma ideologia política nova, portanto deve haver um retrocesso à teocracia. Isso, não levando em conta os países que já são teocráticos há tempos e a última grande revolução, que foi a Iraniana, ter levado o país a uma teocracia, depois a uma democracia teocrática e agora a uma ditadura teocrática. A Turquia está prestes a seguir caminho semelhante e Israel prestes a passar uma nova lei no parlamento que encerra a discussão sobre as consversões não ortodoxas colocando em "definitivo" que elas não terão valor.
Isso para todos os efeitos ideológicos significa que a decisão tomada em Nova Iorque no final dos anos 1990 (com o voto contra apenas do Chabad) que definiu que todas as designações não ortodoxas não eram mais consideradas judias, será aceito como LEI pelo "Estado Judeu" e não pelo sonhado Estado dos Judeus. No fim das contas isso é só uma armação na militância pró-ativa para a vinda do Messias que exige a presença de TODOS os judeus em Israel. É mais simples excluir todos os ramos que fazem conversões não ortodoxas e que permitem casamentos mistos e interpretações liberais dos textos do judaísmo, porque aí D'us é enganado e pode-se até esperar que ele mande seu Messais, ou nosso Messias, sei lá para um Israel onde ortodoxos são judeus e judeus não ortodoxos são israelenses. Essa nova Lei não afeta a Lei do Retorno, pelo que se entende atualmente.
José Roitberg - jornalista
terça-feira, março 16
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