quinta-feira, janeiro 28

Mais de 43 mil morreram no primeiro campo de concentração

Reportagem especial na Alemanha marca o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, celebrado nesta quarta-feira

Esta quarta-feira (27) marca o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, quando seis milhões de judeus foram mortos durante a Segunda Guerra Mundial e nos campos de concentração nazistas. Os repórteres da TV Globo Mônica Silveira e Robson Batista estiveram em Dachau, na Alemanha, onde foi construído o primeiro desses campos de concentração (foto 1). Lá, 43 mil pessoas morreram. Algumas de fome, outras de doença. A maioria foi executada.

Hoje, Dachau se transformou em um museu (foto 2), que conta um pouco dessa história de violência e intolerância. As pessoas que visitam o local refazem um caminho que mais de 200 mil prisioneiros de diversos países foram obrigados a atravessar ao longo dos 12 anos em que o campo de concentração de Dachau funcionou. O local fica a 20 quilômetros de Munique, no sul da Alemanha.

O campo foi construído para prisioneiros políticos, em 1933, logo depois de Adolph Hitler assumir o poder. Serviu de modelo para a construção de outros. Os visitantes vêm de todo o mundo e se escandalizam ao ver um pouco do que sofreram judeus, homossexuais, religiosos e comunistas perseguidos pelos nazistas. Parte dessa história está contada no museu que fica dentro do local. Fotos mostram os 34 alojamentos onde os presos viviam a cada manhã a esperança de não serem mortos. Três galpões foram usados para as mais absurdas experiências médicas.

Um dormitório foi reconstruído nos anos 60 para que se possa ver como era a vida dos prisioneiros. Um dormitório foi construído para duzentas pessoas, mas chegou a abrigar duas mil no fim da guerra.

Os prédios foram destruídos pelas forças aliadas, no fim da guerra, mas depois reerguidos para que a história não fosse jamais esquecida. Lá, morreram 43 mil pessoas. Algumas de fome, outras de doença, como tifo, mas a maioria foi executada. Um crematório foi considerado pouco quando o número de mortos cresceu, em 1940. Outro foi construído, com quatro fornos (foto 3).

A câmara de gás, onde os prisioneiros seriam levados achando que tomariam um banho, nunca chegou a funcionar, mas sabe-se que muitas execuções foram feitas aí dentro. Em 29 de abril de 1945 as tropas americanas libertaram os sobreviventes.

Pola Berenstein (foto 4), de 88 anos, é uma sobrevivente do holocausto. Ela nunca esteve num campo de concentração, embora tenha perdido muito parentes lá. Mas foi obrigada a deixar a terra onde vivia, na Romênia, e levada numa caminhada sem rumo e que parecia sem fim. Do grupo inicial de mil pessoas, apenas 50 sobreviveram.

"A gente vê mulher que dá à luz e deixa a criança e vai embora, e muitas com fome, andar, andar, 30, 40 quilômetros por dia e chegando no lugar já passou uma turma lá e sujo, tudo, não tem onde se deitar, não tem nada, onde descansar. A pessoa cansa também, né? E morrendo gente. Morreu, a gente vai embora. Ninguém não ligava nada, nada, nada. Você sabe, ninguém eu acho que não chorava mais. Todo mundo comentava, né? Por que?", relembra.

Pola e o marido se instalaram no Recife depois da guerra e tiveram três filhos. O marido, Leon, morreu há 33 anos. O corpo dele está enterrado no Cemitério Israelita, ao lado de outros 20 sobreviventes judeus da Segunda Guerra. O Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto tem um significado especial para a comunidade judaica em Pernambuco.

"A mensagem que a comunidade judaica deveria agora apresentar é apesar de sermos considerados os diferentes em períodos de restrições de liberdade de consciência, nós aqui chegamos, aqui ficamos, aqui reconstruímos nossas vidas. Aqui nossos ressentimentos foram transformados num desejo de reconquistar uma cidadania que nos foi oferecida no momento em que os primeiro imigrantes aqui chegaram", disse Tânia Kaufman (foto 5), presidente do Arquivo Histórico Judaico.

Somente seis judeus sobreviventes da guerra moram no Recife. A maioria não tem coragem de visitar um campo de concentração, nem de ver filmes sobre os horrores daquele tempo. "Eu não gosto. Pode mostrar um monte na televisão, montes de mortos assim do campo de concentração. Ontem mostrou um filme, mas não gosto...eu lembro...eu vi morte com os olhos abertos, centenas de pessoas", fala Pola Berenstein.

Nesta quinta-feira, a cerimônia pelo Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto terá a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estará no Recife cumprindo agenda política antes de viagem para Davos, na Suíça. A cerimônia será às 17h na Sinagoga Kahal Zur Israel, no Bairro do Recife.

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