quinta-feira, janeiro 28

NUNCA MAIS? Nunca mais o quê?

Não há frase mais dita e gritada, seja por oradores, seja pelo público emocionado nas cerimônias do Dia do Holocausto pela ONU e do Yom Hashoa.

Cada vez que ouvi estas duas palavras da boca de sobreviventes, de políticos e de lideranças comunitárias, até mesmo em Israel sempre fiquei incomodado. O que não deveria ou não poderia ocorrer nunca mais?

Seria o antissemitismo? Se é, a frase não tem efeito, pois temos as ações antissemitas por todos os cantos, sendo 2009 o ano com o maior número de registros desde o final da Segunda Guerra.

Seria o preconceito contra os judeus? Está ai a torto e à direita.

Seria a matança de judeus? Bem, desde 1945, um líder árabe atrás do outro teve essa matança como agenda política internacional aberta, agora assumida por iranianos e afegãos.

Seriam os genocídios em geral? Quantos ocorreram após 1945? Centenas de milhões foram trucidados pelos diversos comunismos. Milhões pereceram em conflitos raciais entre negros na África. Mais de 1 milhão de mortos na Partilha do subcontinente indiano entre Índia, Paquistão Ocidental e Paquistão Oriental (Blangladesh). Também não funciona esta frase neste contexto.

Então, quem disse? Quem a criou? Qual era o seu contexto original? O que houve no caminho para que esse NUNCA MAIS tenha se tornado um brado generalizado, incompreensível e com pouco sentido prático.

A frase foi cunhada pelo rabino Meir Kahane em 1968 nos EUA, quando fundou a Liga de Defesa Judaica, grupo armado (legalmente) dentro dos Estados Unidos para defender fisicamente os judeus do antissemitismo. Não fosse isso necessário em 1968, não teria sido feito. Era uma época de forte sonflitos entre negros e judeus, principalemente no Brooklin. Estavam contra os judeus os Panteras Negras e os muçulmanos liderados por Malcom X (assassiando também) e até hoje por Louis Farrakan. Não restaram estatísticas desta época para sabermos qual era a intensidade do antissemitismo.

Kahane é mais execrado pelos judeus em geral por sua luta intransigente pela vida judaicae por Israel que o Naturei Karta, pela sua vontade de destruição de Israel. Kahane também fundou o grupo e partido politico Kach e deste grupo se originou o Ygal Amir, que assassinou Ytzhak Rabin. Mas isso foi anos após o assassinato do rabino Kahane, em plena Manhattan, por um terrorista árabe-americano que o abateu a tiros na nuca quando saia de uma palestra. Kahane foi assassinado pelo americano de origem egípcia El Sayyid Nossair. Seu fuga era num taxi dirigido pelo comparsa Abouhalima, mas ele pegou o taxi errado. Num engarrafamento, fugiu a pé, foi perseguido por um policial com quem trocou tiros até ser atingido. Além do policial outro transuente de 73 levou um tiro na perna. O juri simplesmente absolveu Nossair, apesar das provas balísticas e testemunhais, condenando-o por posse de armar e outros crimes menores, sendo uma das maiores vergonhas do judiciário americano. Em seu pronunciamento de sentença o juiz disse que os Estados Unidos estavam sendo "estuprados" por este veredicto. Os dois, foram depois condenados por fazerem parte do complô do primeiro atentado com carro bomba contra o World Trade Center.

O pai de Kahane, também rabino era muito amigo de Jabotinsky e na juventude Kahane pertenceu ao Betar. Tudo isso fazia parte do movimento Sionista Revisionista (sionismo de direita, mas direita judaica e não facismo). O Kach foi  fundado em 1971 com uma plataforma politica aberta anti-árabe exigindo a anexação de todos os territórios ocupados em 1967 e a expulsão dos árabes de lá, uma mera reposta à expulsão de 800 mil judeus dos países árabes entre 1948 e 1956. Se aqueles países tiveram este direito inconteste internacionalmente e fizeram essa expulsão e exproriação de imóveis em bens com aprovação internacional, por que Israel não teria o mesmo direito?

Baruch Goldstein que assassinou brutalmente 34 palestinos na Caverna dos Patriarcas em 1994 (morto em seguida pela segurança) pertenceu a JDL, mas não fazia parte do grupo quando cometeu seu crime. Aliás, seu túmulo é local de peregrinação pelos extremistas ortodoxos em Israel. Um herói! Um covarde...

Ao fundar a JDL em 1961 a frase que Kahane disse foi:

"Nunca mais os judeus serão levados para a morte sem reagir" e aí o simplificado e banalizado "nunca mais" passa a ter sentido.

Mas quem removeu o resto da frase? Israel como Estado se baseia nela. Foi a esquerda judaica. Como esquerdistas poderiam usar uma frase de seu maior "demônio" de direita? Mudando a frase.

Que bobagem é essa? Judeus serão levados novamente à morte? Por que não? Mas reagirão. Só que essa esquerda judaica contemporânea não é herdeira dos jovens dos movimentos juvenis judaicos de esquerda que foram para as florestas matar os soldados nazistas ou serviram ou se juntaram ao exército soviético para combater nazistas. Esta esquerda judaica contemporânea pretende ser politicamente correta acreditando que a prerrogativa de não fazer mal aos judeus é universal, que o antissemitismo não realmente algo que exista e que os judeus não devem se defender, mas devem acreditar que outros os defenderão... Esta esquerda não acredtia no embate entre o Islã e o ocidente.

Imagine só: Kahane apoiava o governo americano na Guerra do Vietnã! Kahane era inimigo declarado da política soviética! Como a esquerda judaica pode suportar isso?

E não há falta de lógica nisso. Se estas pessoas continuam cultuando a possibilidade de recriar um sistema de estado socialista, se estas pessoas acham que podem ser judias num comunismo que aboliu e perseguiu todas as religiões, por que também não podem achar que o antissemitismo não existe? Como a lógica é toda torcida esta perversão acaba sendo sua própria lógica e própria verdade e como tudo que é pensamento de esquerda, precisa prevalecer sobre todos os outros.

Para sintetizar essa consolidação da esquerda judaica no poder, peço que deem uma olhada na fonte mais insuspeita sobre o judaísmo a Jewish Virtual LIbrary, fonte de consulta quase obrigatória. http://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/biography/kahane.html

Fui lá para ver o que ele diziam. Na linha 11, um resgate incorreto do "Never Again", mas pelo menos atribui a frase ao autor certo. Mas nas linhas 2 e 7 (de baixo para cima) um revisionismo porco, ridículo e lamentável: Kahane morreu!!! O artigo sobre a biografia dele não cita que ele foi assassinado. Isso é uma vergonha... Voz passiva! O judeu morreu... O judeu não foi morto.... Estou levando esse caso a ADL.

"Nunca mais os judeus serão levados para a morte sem reagir"

Esse é o lema completo sobre o que os judeus aprenderam ou deveriam ter aprendido sobre o Holocausto.

José Roitberg - jornalista e coordenador do Vaad Hashoa Brasil

Um comentário:

  1. Show de cinismo: Homem que apoia Ahmadinejad, elemento que nega Holocausto, acende velas na Kahal Zur. Como Sefaradi, protesto!

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