terça-feira, janeiro 12

Vítimas do Holocausto pedem que rabino conte ao papa sua dor

Existe opinião e existe história. Ambos artigos estão errados (em minha opinião) e cada um puxa a brasa para sua sardinha. Pio XII não foi um "tenaz" crítico do nazismo e sim um tenaz crítico do comunismo. E essa de que ele teria salvo 700 a 860 mil judeus??? De onde? Para onde? Quem teriam sido estas pessoas? É impressionante um autor como o da segunda matéria jogar um número destes como se fosse verdadeiro e se vc fizer as contas vai acreditar que Pio XII salvou "quase um sexto dos judeus que foram mortos no Holocausto". Conta perigosa. O artigo original mais abaixo diz "O historiador judeu cita inclusive a obra "Three Popes and the Jews", do diplomático judeu Pinchas Lapide, cônsul israelense em Milão, segundo o qual  Pio XII salvou com certeza a vida de 700.000 hebreus, e provavelmente chegou a salvar até 860.000 da maquinaria assassina dos nazistas." Mas o texto original de Pinchas Lapide de 1967 é bem diferente: "...estima que Pio XII e inúmeros padres, freiras e leigos católicos tenham salvo de 700 mil a 850 mil judeus da fúria nazista até à custa da própria vida em não poucos casos." Não foi o Papa, mas ações individuais sem apoio do Vaticano.

O que temos de dados absolutamente reais é o seguinte e não podemos esquecer que o Vaticano primeiro foi sitiado, mesmo que não abertamente por Mussolini e depois de sua queda, pelos nazistas alemães. De qualquer forma o Vaticano e a Igreja em todo o mundo apoiaram Mussolini, Franco e outros facistas (veja parte do discurso do Cardeal de Montreal de 1938 em anexo)

Foram dois Papas envolvidos com o mesmo nome e talvez isso faça toda a confusão. Igualzinho o caso de Herodes da história de Jesus, que na verdade não era o Herodes preposto romano que governou bem para os judeus, construiu Massada etc, mas Herodes Antipas (nome derivado do seu avô, alto oficial militar de Chipre, Antipater). Nem precisa perguntar de onde vem o termo "antipático" de nossa língua...

Bem, mas eram dois Pios. O Pio XI foi de 1922 a 1939. ATENÇÃO... 1939 !!! Ele teve um ataque cardíaco antes da Missa do Galo em 25 de dezembro de 1938, amplamente divulgado nos jornais de todo o mundo e veio a falecer alguns meses depois. Portanto, PIO XI foi o Papa não só da ascenção do nazismo, como da consolidação do comunismo. Com os nazistas, apenas partir de 1935 o Vaticano fez um acordo para que o Partido Nazista respeitasse as propriedades da Igreja e seus clérigos na Alemanha. No início o acordo foi cumprido, mas nos dias que antecederam e sucederam a Noite dos Cristais houve também vandalismo e depredações de igrejas na Alemanha e Áustria (ninguem quer falar nisso - veja uma da manchetes em anexo) e até mesmo alguns bispos foram retirados de casa ou de suas igrejas e espancados pelos SA e populares. Com os luteranos, cisão da Igreja por Martinho Lutero de mais de 400 anos a coisa foi diferente. A maioria cristã alemã era Luterana. É baseado nos dois livros super antissemitas de Lutero que se formou a base de 400 anos de antissemitismo na Alemanha o que permitiu sua população aceitar ver e participar do extermínio dos judeus. A Igreja católica era minoria lá e não faltam histórias e clérigos enviados para campos e mortos lá junto com os outros. Mas já ouviu alguma história de clérigos luteranos mortos no Holocausto? Eu não ouvi. A via luterana não era religião oficial dos nazistas, que não tinham nenhuma. Não se pode perder o foco de que começaram como socialistas com o conceito de total separação de Igreja e Estado.

Você jamais vai me ver impressionado com "I Have a Dream" de Martin Luther King (Martinho Lutero o Rei...) Meia revelação do dia: esse aí era o Junior, filho do agricultor e depois pregador Martin Luther King, cujo nome de nascença até se tornar pregador era Michael King, nascido em 1864. Portanto a escolha do novo nome foi intencional. Ninguém adota tal nome se não concordar com o que o sujeito escreveu. Neste caso, o artigo da Wiki com um resuminho tá bom. http://pt.wikipedia.org/wiki/Sobre_os_judeus_e_suas_mentiras

E é um dos motivos do Vaticano ter feito acordos para salvar suas propriedades lá. Pois na Rússia, perderam tudo o que tinham, como ocorreu com todas as outras religiões. Então na visão católica, quem era o maior inimigo: o que baniu Deus e todas as religiões, que confiscou todas as prorpiedades ou com o qual se podia fazer um acordo?

O Vaticano está aí para os interesses católicos e não para os interesses judaicos..
. Esperar que o Vaticano como instituição, ou seu escritório da Inquisição - Congregação Para a Doutrina da Fé (que existe até hoje e foi dirigido por Ratzinger antes de se tornar o atual Papa) defendam e protejam judeus é querer o impossível.

Note o problema do historiador e do jornalista. Se eu terminar com PIO XI aqui, terei dito a mais pura verdade, terei pintado um quadro desfavorável e vc terá a impressão de que ele compactuava com o nazismo. Mas a história não em bem essa (creio que é um dos termo que mais uso...). Além do acordo com os nazistas em 1933, assim que Hitler assumiu o poder, Pio XI fez acordos com outros 14 países para proteger os interesses da igreja, suas propriedades, escolas, jornais, clérigos e intelectuais. Em pouco tempo, tudo que estava no acordo foi violado pelos nazistas com censura aos jornais católicos e clérigos enviados para Dachau como inimigos do Estado.

Em 14 de março de 1937, Pio XI publica uma encíclica onde se lê: "A Igreja Católica cumpriu sua parte (qual seria? eu anda não descobri) mas O OUTRO LADO (os nazistas) sistematicamente violou tudo... Os principais itens do acordo estão aqui em ingles e não citam obrigações da Igreja e sim seus direitos. A Igreja católica não pode aceitar a teoria racista pois todos os homens nascem à imagem e semelhança de Deus... (a Igreja Católica) não tem na contra o regime (nazista) pois cada povo tem o direito de dar a si mesmo o regime que quiser." É assim que Pio XI se referiu de forma final ao nazismo. Na mesma encíclica o Papa condena o "paganismo" dos nacional-socialistas.

Os principais itens do acordo entre o Vaticano e Hitler estão aqui

    * The right to freedom of the Roman Catholic religion. (Article 1)
    * The state concordats with Bavaria (1924), Prussia (1929), and Baden (1932) remain valid. (Article 2)
    * Unhindered correspondence between the Holy See and German Catholics. (Article 4)
    * The right of the church to collect church taxes. (Article 13)
    * The oath of allegiance of the bishops: "(...) Ich schwöre und verspreche, die verfassungsmässig gebildete Regierung zu achten und von meinem Klerus achten zu lassen (...)" ("I swear and vow to honor the constitutional government and to make my clergy honor it") (Article 16)
    * State services to the church can be abolished only in mutual agreement. (Article 18)
    * Catholic religion is taught in school (article 21) and teachers for Catholic religion can be employed only with the approval of the bishop (article 22).
    * Protection of Catholic organizations and freedom of religious practice. (Article 31)
    * Clerics may not be members of or be active for political parties. (Article 32)

A secret annex relieved clerics from military duty in the case that mandatory military service should be reinstated.



Mas 5 dias depois ele publica outra encíclica "contra o comunismo ateu" e aí as palavras são bem mais duras: "É o inimigo número um da Igreja e condeno  todos os regimes que o aplicam. Está proibido aos católicos ajudar ou apoiar países comunistas: União Soviética, Espanha (estava em guerra civil com o fascista Franco em vias de assumir o poder apoiado pela Alemanha e Itália, também com massacres terríveis de comunistas e democratas - mas por que o Vaticano define a Espanha como comunista se era uma república eleita democraticamente em 1931 e em cujo parlamento os comunistas tinham apenas 0,7% de representação? Porque a constituição republicana da Espanha criou a separação Igreja/Estado. O clero Espanhol apoiou Franco na Guerra Civil, ou seja, apoiou abertamente o fascismo) e o México..." Mas pera aí? México comunista em 1939? É o mesmo caso da Espanha só que bem anterior pois a constituição da república mexicana definiu a separação Igreja/ Estado em 1917, durante a Pirmeira Guerra Mundial... Lendo isso fica muito claro qual era o alinhamento do primeiro Pio da questão e do Vaticano.

Mas ainda não termina. Após a Noite dos Cristais (9-10 novmebro de 1938) o Vaticano SE POSICIONA e Pio XI escreve a "Humani generis unitas" (conhecida erradamente por Encíclica Contra o Racismo e o Antissemitismo) com 170 parágrafos. Acertou. Não foi publicada devido ao ataque cardíaco do Natal como vimos acima. E não foi publicada por Pio XII. Se vc é teórico da conspiração precisa imaginar que ele foi assassinado para que não publicasse... Mas o texto existe e foi divulgado na França apenas em 1997, Isso é o que me foi ensinado na Universidade Hebraica de Jerusalém. Mas bom aluno não aceita estas colocações e vai ler os textos.

Pio XII não publicou a "Humani generis unitas" cujos 108 últimos parágrafos foram escritos por jesuítas, devido ao pesado conteúdo antissemita dela. É exatamente o contrário do que se ensina neste tipo de assunto.

A "Humani generis unitas" era alinhada com um Vaticano fascista e com a perseguição aos judeus. Culpava os judeus pela morte de Jesus, "O ato verdadeiro pelo qual o povo judeu condenou a morte seu salvador e rei, nas palavras fortes de São Paulo, a salvação do mundo... Os judeus eram materialistas cegos... Poucas almas judias escolhidas entre os discípulos... Ao longo dos séculos poucos judeus foram a exceção (e aceitaram o messias)..." e arremata com: "Pela misteriosa providência de Deus, este povo infeliz (os judeus), destruidores de sua própria nação, aqueles que guiaram líderes de forma errada e proposital chamaram para si a maldição divina sob suas cabeças, amaldiçoados e condenados, como foi, a perpetuamente vagar na face da terra sem nunca ser permitido que pereçam, mas eles perseveraram através das eras até nosso próprio tempo. Não há nenhuma razão natural que explique essa longa persistência, essa indestrutível coesão do povo judeu." Imagine isso sendo publicado no Natal de 1938, quando era previsto? Talvez a matança começasse naquele momento.

Vc não vai encontrar na biblioteca do Vaticano mas pode ler em inglês neste link as partes destacadas sobre os judeus e sobre o antissemitismo. No início há uma crítica ao que ocorria na Alemanha, mas em seguida há uma consideração de que isso era positivo e até mesmo um descalabro do Vaticano afirmando que através dos tempos "protegeu os judeus das perseguições..." http://www.bc.edu/research/cjl/meta-elements/texts/cjrelations/resources/education/humani_generis_unitas.htm (é da universidade Boston College).

Pio XII assumiu em 2 de março de 1939 e foi até 1958; Em todas as encíclicas de PIO XII não existe a palavra "judeus", "assassinato", "massacre" etc. Nem durante, nem depois do Holocausto. O Vaticano não se posicionou e muito menos salvou 850 mil judeus, nem depois da divulgação em todo o mundo sobre os campos de concentração, trabalho escravo e extermínio, ou sobre os massacres dos Eizatsgruppen com a participação da população local nos Estados Bálticos - 1,5 milhões de judeus abatidos.

No final de 1942 em uma de suas encíclicas, PIO XII diz:  "há pessoas que estão sendo assassinadas devido a sua fé e convicções". Ele nunca disse que os nazistas estavam matando judeus. e continua " (pessoas) sofrendo por sua religião e procedência", mas também não diz que são os judeus. Afinal, quanta gente estava sendo morta a essa altura?

Em 12 de outubro de 1939 Pio XII publicou sua primeira encíclica, a Summi Pontificatus que era basicamente a "Humanis" não publicada, retiradas todas as referências racistas aos judeus. Pode ser lida no site do vaticano http://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_20101939_summi-pontificatus_en.html

E na América? Qual foi o reflexo? As igrejas locais não tiveram nenhum exemplo a ser seguido contra o nazismo, mas sim, contra o comunismo e publicaram isso rapidamente. Em anexo, uma publicação canadense da época. Pela data pode-se ver a rapidez da divulgação. Mas a de 12-out-1939 levou de 3  a 12 meses para ser publicada na totalidade das Américas.

Mesmo com isso tudo ainda sobrou espaço para a revelação mais contundente do dia. De onde vem o termo "Santa Sé" para designar o Vaticano? Em inglês é "Holly See" (Olhar Sagrado)... "Sé"? Sei lá...

José Roitberg - jornalista

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